10 outubro 2006

Gente fina


Um amigo vai lançar um livro e, segundo a namorada dele, está que não se agüenta de ansiedade. Eu também estaria. Afinal é preciso ter coragem para se exibir para os outros de maneira tão intensa. E não estou falando do exibir do narcisista, mas do exibir de quem quer compartilhar.
E nem estou achando que eu, pobre jornalista, tenho essa coragem. Eu não crio realidades paralelas, personagens, situações. Eu escrevo sobre o que está aí fora.
Já esse amigo não. Escreve sobre o que está lá dentro. E, dizem, faz isso muito bem.
Só vou poder opinar depois da noite de amanhã, quando ele lança o livro. Mas já tenho uma profunda simpatia pela idéia. Não só porque é meu amigo. Mas porque tem 20 e poucos anos e ficou com o sonho guardado na gaveta esperando a hora de ganhar o mundo.
Talvez tenha esperado mais do que gostaria, mais do que merecia. Mas fez isso sozinho e merece um abraço apertado só por causa disso.
Ronaldo Pelli, o meu amigo, não é de nenhuma dessas galeras que legisla e distribui a cultura em causa própria no Rio de Janeiro.
Acho que vou adorar esse livro.

A Primeira Pessoa
Ronaldo Pelli
Dia 10 de outubro, às 20h30
Mistura Carioca
Rua Gomes Freire 791, Lapa

Algum tempo depois...


Jean Paul Gaultier fez 30 anos de moda e celebrou na Semana de Moda de Paris, com o lançamento de uma coleção primavera-verão que provou mais uma vez porque, ao lado de Vivienne Westwood, sempre foi considerado um enfant terrible.
Gaultier é da geração do punk e não nega. Couros, tachas, plastificados e moicanos estavam lá. Na lembrança de suas criações mais marcantes também está o jogo de opostos: oversize e silhuetas ajustadas; preto e branco; esportivo e social.
Mas para a próxima temporada foram os longos em referências inusitadas que se destacaram na passarela. Jeans, camuflado e o inconfundível estilo marinheiro.
Tudo isso para dizer que esta semana finalmente eu entendi porque os primeiros frascos de perfume de Gaultier eram listrados.
Porque o estilista desde a infância é vidrado naquela camisa de listras que os pescadores franceses usam. Sabe qual é, né? La Marinière, como eu aprendi no curso de francês.
Para mim foi a descoberta da pólvora várias vezes numa aula só. Descobri que é uma roupa que saiu da Bretanha para as ruas, que Gaultier tem vários modelos de diferentes materiais no armário e que as listras, antes de serem estilo, tinham uma utilidade básica: ajudar na sinalização dos homens no barco.
É por essas e outras que comparar curso de inglês e de francês é como colocar lado a lado a melhor lanchonete fast food e qualquer café de Paris. Uma maldade.